Baseado na verdadeira história de Artemísia (1593-1653), a primeira mulher admitida na Academia de Artes de Florença, este livro de Susan Vreeland é quase como uma pintura.
Com o seu pincel, Artemísia conta-nos a história da sua vida, desde que foi violada, aos 17 anos, pelo professor de pintura. O caso é levado a tribunal pelo seu pai, o pintor Orazio Gentileschi, e é nesse mesmo local que Artemísia é submetida a um teste humilhante para comprovar a perda da sua virgindade:
“Sentei-me na ponta da mesa. Inexpressiva, a parteira mais velha gesticulou para que me deitasse e dobrasse os joelhos. Parecia que os ossos das pernas derretiam. A mais nova mergulhou os dedos em gordura animal rançosa e mal cheirosa, levantando-me em seguida a saia.”
Casada por conveniência com um pintor pouco conhecido, Artemísia deixa Roma e vai morar para Florença, a cidade das artes. Mas o seu marido não consegue superar o talento artístico de Artemísia e assim surge a inveja e, com ela, os problemas.
Mas mesmo com o nascimento da sua filha, Artemísia não deixa de pintar nem de procurar reconhecimento pelo seu trabalho, conseguindo o patronato dos Medici… Até que é finalmente admitida na Accademia dell’Arte del Disegno. “Ainda bem que sou mulher… Se fosse homem, seria muito fácil ganhar a vida a pintar.”
Esta obra de ficção mostra a complexidade de uma personalidade histórica que “irrompeu no Renascimento com todo o drama de uma ópera italiana.” O livro mergulha bem fundo na pintura, mostrando técnicas e materiais, trazendo grandes nomes e obras de arte. Vreeland revela-se grande conhecedora de arte: nao falta sequer a alusão ao grande livro de Cèsare Ripa, Iconologia.
É uma leitura enriquecedora, tanto para aqueles que têm conhecimentos na pintura como para aqueles que simplesmente apreciam uma boa tela. Susan Vreeland torna a narrativa muito expressiva sobretudo através de uma grande riqueza imagética. A componente visual está para A Paixão de Artemísia assim como a riqueza olfactiva está para O Perfume, de Patrik Süskind.
“- Temos tido sorte, – disse eu. – Temos conseguido viver daquilo que amamos. E viver a pintar, como nós vivemos, onde quer que estivéssemos, é viver a paixão, a imaginação, a ligação e a adoração, o melhor da vida – estar mais vivo do que os outros.”
Andreia Pinto